Saturday, June 16, 2007

Money for Nothing...

As mudanças realizaram-se rapidamente e foi bastante divertido. Mas de facto, esta minha vidinha de Phd student, não me está a fazer bem ao físico e não tenho forcinha nenhuma nos braços. Facto que aqui em NY é de destacar porque o pessoal é todo quitado, é culturistas em todo o lado! Grande parte deles são é gays e é sempre giro ver um gajo enorme com t-shirt cor-de-rosa, com biceps da largura das minha pernas, a passear um cãozinho micróbio chamado Sissi...

O processo de mudança era simples. Eu tinha a minha mala, e o Francisco e a Cris tinham... 15 caixas, malas e sacos. Eu e o Francisco fomos carregando as malas entre a Bleeker e o inicio da Quinta Avenida, para a nova maison. A nova casa era mesmo no inicio da 5th, logo à saida da Washinston Square por isso era perto e a unica coisa que era necessário fazer era atravessar o Washington Park. Fomos fazendo a coisa em várias viagens, cada uma delas com algumas paragens pelo caminho para recuperar forças.

O Washington Park é um dos pontos mais engraçados de NY porque grande parte dos edificios da NYU ficam nas redondezas e é por isso intensamente frequentada por estudantes. É uma praça larga com um arco enorme construido em honra de George Washington e onde se encontra inscrita a frase:

"LET US RAISE A STANDARD TO WHICH THE WISE AND THE HONEST CAN REPAIR THE EVENT IS IN THE HANDS OF GOD?"

Bonito e inspirador!

A praça é o ponto de encontro de muitas tribos locais que emprestam um colorido adicional aos jardins que seria de outra forma sobrios, fazendo-me lembrar um pouco a Praça de S. Lazaro no Porto, embora sem as casas de meninas nas imediações. É frequente encontrar grupos de jazz a improvisar no meio da praça, atraindo pouco mais que os olhares de alguns turistas, porque para os locals jazz na rua é normal e toda a gente é uma estrela. Mas há também ilusionistas, vocalistas, homens estátuas, homens a fazer de robots com ferrugem e tudo, muita coisa.... E esquilos! Muitos esquilos a saltitar de um lado para outro!

Na semana passada a praça foi palco de um encontro de Hare Krishnas, daqueles tipos todos coloridos e carequinhas. Realmente foi um momento muito giro, com gente de todas as raças a partilhar um ideal de vida e a trocar experiências, e talvez receitinhas de pratos vegan. Juntou-se tanto poder espiritual naquela praça que teve de se fechar o espaço aereo sobre NY porque a qualquer momento o céu poderia ficar cheio de gajos a levitar!! Isto na América é assim e mais vale jogar pelo seguro!

Poder de levitação era coisa que nos teria ajudado a fazer as mudanças. Depois de duas ou três viagens com os sacos e malas eu estava todo roto, e o Francisco apesar de não admitir, também! Cada viagem era uma tortura com várias paragens, eu para descansar os meus bracinhos e o Francisco para fumar um cigarro. Entretanto, numa destas viagens um tipo musculado de passagem piscou-me o olho...!?!

Gostas de magrinhos oh menaço?? Vai lá dar banho ao cão!... VTF!

Francisco, este parque é muito estanho... Bora lá:

We gotta install microwave ovens
Custom kitchen deliveries
We gotta move these refrigerators
We gotta move these colour tvs

See the little faggot with the earring and the makeup
Yeah buddy thats his own hair
That little faggot got his own jet airplane
That little faggot hes a millionaire

....

Breakfast in America

A Cris e o Francisco foram os porreiraços e aturaram este vosso fiel pendura durante 10 dias até conseguir o meu FABULOSO studio. Além do mais permitiram-me duas coisas adicionais: (i) morar em duas zonas diferentes de NY logo nos primeiros dias e (ii) fazer algum exercicio, que era necessário depois da minha vida sedentária em Amesterdão (ou "sedimentária" tendo em conta a acumulação pneumática proporcionada pela cerveja barata).

A minha primeira noite em NY foi... curta! Eu estava super excitado com as luzes, apesar do jet-lag de 5h. Seriam umas 2-3 da manhã em PT quando o Francisco me veio buscar à Grand Central. Apanhamos o metro enquanto eu alucinava com a o cenário cinematográfico. O metro cheio, com gente de todas as cores, incrivel! Eu julgava que Amesterdão era uma salgalhada mas, comparado com NY, dá para perceber que há uma maioria de dominante de people loirito. Aqui não consigo ainda fazer a estatistica: há demasiadas cores! A Benneton deve ter aqui a sua sede!

Chegamos à Bleeker Street, e subimos até ao 14 andar de uma complexo residêncial onde a Cris e o Francisco tinham um estúdio espectacular com uma varanda incrivel! Depois de alguns arranjos, lá me instalei no sofá-cama! Segunda relatos efectuados no dia seguinte, consta que adormeci instantaneamente.

Acordei pelas 6 da manhã locais, com a luz, com o barulho, com o calor, e com o jet-lag! A Cris e Francisco, dormem mas grande parte da cidade já bombava. Nova York apresentava-se como um monstro composto por 8 milhões de células que que acordam cedo para iniciar um fluxo metabólico diário!

Vou buscar um copo de sumo e vou à varanda ver o nascer do sol.



Bebo lentamente um golo e saboreio o meu primeiro pequeno almoço na america...

Pouco sustento para quem vai já ajudar numas mudanças. É que este é o último dia de Maio e o último em que a Cris e o Francisco podem ficar neste apartamento: vamo-nos já mudar da Bleeker para... a 5th Avenue! :)

I´m a winner, I´m a sinner
Do you want my autograph
I´m a loser what a joker
I´m playing my jokes upon you
While there´s nothing better to do

...

Thursday, June 14, 2007

La Femme d'Argent

Demorei cerca de 30 minutos até apanhar o autocarro para a Grand Central Station. O Francisco iria buscar-me ai para me dar guarida na minha primeira noite em NY. A saida do JFK é confusa. A zona de Queens, um dos borroughs de NY situado a este de Manhattan é totalmente diferente da imagem que temos de NY dos filmes, que assenta essencialmente na figura de Manhattan. Queens, pareceu-me ser uma amontado de armazens, e de nós rodoviários, confusos para o meu olhar de recém-chegado. Ouvia música no meu iPod, o cansaço começava a pesar.

Aos poucos, o sol punha-se no horizonte, a oeste, por trás de Manhattan. À distancia que estávamos ainda não se conseguia vislumbrar a Sky-line mas à medida que avançavamos e o ceu se tornava mais vermelho escuro, começava-se aos poucos a sentir a luz que provinha de Manhattan. Depois de percorrermos mais alguns quilómetros, em que já teriamos chegado possivelmente a Brooklyn, a Sky-line definiu-se: a vista é impressionate! Torres enormes a rasgar um ceu vermelho de pôr-de-sol. Luzes brancas, luzes vermelhas, luzes azuis, luzes verdes.... Parece que aterrei noutro planeta. Fico longos minutos a apreciar, tal como muitos outros turistas, de boca aberta de espanto! Para o motorista, esta imagem deve ser igual às que tem visto nos últimos 5 anos em que conduz o autocarro mas para quase todos os seus passageiros, a imagem é inacreditável.

Pouco depois entramos no tunel que nos leva a Manhattan. Não sei bem onde estava, mas de repente entra-se na ilha, e entra-se num filme. As ruas, os passeios, as portas de entrada tal como nos filmes. Proporcionam uma estranha sensação de familariadade, um leve sentimento de deja vu, alimentado por décadas de filmes americanos. Tal como nos filmes... agora do outro lado do ecrã.

À minha direita (ou teria sido à esquerda) aparece entre o espaço de dois quarteirões e ao fundo de uma avenida, a figura esguia e hipnótica do Chrysler Building! Que figura incrível com o seu topo metálico, art-deco. O meu iPod ajoelha-se em respeito e oferece-me La Femme d'Argent dos Air. Por dois ou três segundos faço parte de um filme de ficção científico que se desenrola em 2046!.....

O autocarro para: "Grand Central!!" diz o motorista. Alguns passageiros saiem... Vou buscar a minha pesada mala. Pouso-a na esquina e sento-me à espera do Francisco. Ao meu lado a Grand Central Station e o edificio da Metlife! "Fds! Estou na América...."

Tobias, Malaquias e o JFK

Não deixa de ser engraçado ter saido de Amesterdão para ir aterrar em Nova York, território inicialmente colonizado pelos Holandeses em 1625 onde estabeleceram um entreposto e que baptizaram de Nova Amsterdão. Deixei a capital holandesa a correr depois de quase 4 meses de trabalho e de umas últimas 3 semanas de grande stress. Aterro em NY sem perceber muito bem como, ainda meio confuso de tudo o que se passou neste último ano. Fez ontem duas semanas que cá estou e só agora parece que estou realmente a sentir o chão. Como uma nova página num livro, em que se ensaia várias vezes antes de lavrar a primeira palavra...

A viagem desdo o meu Porto foi longa: as cinco horas de diferença horária faziam com que o dia parece longuissimo, com o sol a fugir mais lentamente que o costume. O tarde arrastou-se com uma luz amarela a preencher o avião durante várias horas. Na minha fila de três ia apenas mais um tipo que vinha a ler umas coisas em hebraico. O tipo era mesmo estranho, não por vir a ler as coisas num alfabeto indecifrável mas porque não comia nada do que lhe traziam e ainda por cima quando tirou os sapatos para ficar mais confortável, quase que fez perder a vontade de comer qq coisa que me trouxessem.

Confesso que vinha um pouco assutado com todo o securitarismo que envolve uma vinda aos States. Não sabia se me faltava alguma coisa ou se me iam levantar problemas à chegada. Obter o visto J1 foi um filme com direito a cenas em esquadras, pelo que já estava à espera de tudo. Ou de quase tudo porque a meio da viagem as hospedeiras da Lufthansa distribuiram por todos os passageiros os famosos papelinhos da emigração: os verdes para quem ia de férias, os brancos para quem tinha visto (ou se não era assim era parecido). A mim calhou-me o branco...

Começo a ler, tudo me parece normal... Perguntas do tipo: "Já alguma vez praticou actos de terrorismo?", "Já manipulou explosivos ou armas quimicas ou biológicas?" e coisas do género. Mas houve uma pergunta que me tramou: "Traz consigo produtos alimentares?"... Oh que caraças! E não é que trago... Mas eram apenas dois pacotes de Linguas de Gato, (um pacote tinha o Tobias e outro o Malaquias para quem é fã das Linguas de Gato). Eu sempre que vou para fora gosto de levar alguma coisa portuguesa, muito portuguesa para funcionar como mais uma espécie de cordão umbilicar. Eu sei que é uma mariquice e que sentimentalismos não alimentam a alma, mas pelo menos as Linguas de Gato alimentam o corpo!

Mas e agora? Se digo que sim trago produtos alimentares vou ficar retido à entrada e vou ter de responder a perguntas dos M.I.B. Se digo que não, isto é se mentir, vou ser apanhado, vão-me pedir para abir a mala e vou ser deportado por causa do duo Tobias & Malaquias. O que fazer??? Depois de muito ponderar achei que a verdade é sempre a melhor política (como diria o MacGyver, mas não o Chico Naifas) e decidi por a cruzinha no "Sim: Eu trago produtos alimentares! Por favor PRENDAM-ME!!"

O avião aterrou no JFK por volta das 17h30 locais. Só à saida, a caminho da fila para as "inspecções" é que me apercebi que o avião vinha carregado da pessoas vindas do leste. Aliás, já pude verificar que há imensos cidadãos de leste aqui em NY e só à minha volta no Google há pelo menos 4 russos e 1 sérvio (que por acaso é um curtidola). Tentei chegar rapidamente à fila da emigração. Percebe-se em certas secções do caminho que o tempo deve estar muito quente lá fora, no exterior do JFK.

Havia dois pontos sucessivos de controlo. O primeiro para verificar se se tinha autorização de residência, e o segundo, já depois de recuperar a bagagem para verificar o que trazemos. Depois de 20 minutos à espera, passo o primeiro posto de controlo, sem problema porque tinha o visto em condições. Depois recupero a bagagem e dirijo-me para o segundo. Aqui é que tudo se decidia! Entrego o papel a um polícia na casa dos 30, um jovem tal como eu! :)

Ele olha para mim e pergunta: "Então que é que trazes?", e eu um bocado a medo respondo "Dois pack of cookies?"... E ele olha para mim, sorri e diz "Get out of here!..."

E eu assim fiz....! Um pouco envergonhado pelo ridiculo, mas com a consciência tranquila de ter dito a verdade na terra da liberdade!

À porta do JFK está um calor intenso! Procuro um autocarro para o centro onde o Francisco se encontrará comigo...! Esta noite fico na casa da Crsitina e do Francisco, na Bleeker Street!

Friday, June 1, 2007

Fim da Série I

O Canhoto termina aqui a Série I decorrida nos estúdios de Amsterdão!
Começa agora a série II, dos mesmos produtores do Sexo e a Cidade!

Canhoto em NY

A produção está ainda a tentar arranjar estúdio, mas é tudo muito muito caro. O plano inicial seria usar estudios em Greenwich Village ou no Soho mas a alternativa finaceiramente viável começa a ser o Bronx! Por enquanto filma-se num estudio emprestado!

Não percam os próximos capítulos!!

Yo yo yo!

Canhoto transferido para grande clube americano

Não são ainda totalmente conhecidos os detalhes daquele que poderá a transferência mais mediática do ano. Depois de 4 meses no principal club de Amsterdão, onde jogou na posição de ponta-de-lança, Canhoto terá chegado a acordo com um grande clube americano cujo o nome ainda se encontra no segredo dos deuses, seguindo assim as pisadas de David Beckman que deixou o Real para ir jogar em Los Angeles.

A transferência deverá envolver montantes consideráveis mas o agente do Canhoto recusou-se a dar detalhes afirmando apenas que, e passamos a citar, "foi um acordo bom para todas as partes". Recorde-se que o passe de Canhoto pertence em 50% ainda o Porto GC (Porto Geek Club), cujos responsáveis preferirem também não tecer comentários.

A nossa reportagem conseguiu interceptar Canhoto no aeroporto, à saida para Nova York. Canhoto, rodeado de apertada segurança foi, como habitualmente, fugindo ironicamente às questões mas ficam aqui alguns excertos da entrevista possível:

Reportagem - Canhoto, qual a razão da saída do Amsterdão? Foi difícil adaptar-se ao esquema de jogo?

Canhoto - Bem, a equipa sempre me apoiou muito. Tive alguns problemas no início em adaptar-me ao estilo de jogo dos holandeses, que jogam normalmente em futebol directo e ao primeiro toque. Na verdade, não estava habituado a isso, e toda a minha experiência estava relacionada com tácticas mais elaboradas, talvez menos práticas mas seguramente mais espectaculares.

R - Justifica assim o seu reduzido desempenho no club? Na verdade marcou muito poucos golos... Estava irreconhecível!...

C - Eu não diria "poucos golos". Rematei muito e marquei o número de golos possível num campeonato em que as defesas jogam em linha e sobem muito depressa. Fiquei muitas vezes fora de jogo, e isso não ajudou. Mas a verdade é que o objectivo da minha contratação em Amsterdão era dar consistência à equipa e nisso acho que fui bem sucedido. E logicamente, o Mister gostou.

R - Os críticos dizem que sua presença assidua nos campos de treino de outros clubs da cidade terá prejudicado o seu entruzamento com a restante equipa. Como comenta?

C - Bem, os críticos dizem muita coisa. As minhas relações com elementos de outros clubes, como o Club 11 ou o SF Club (Sugar Factory Club) foram apenas de cordialidade e não interferiram com o meu desempenho. O críticos deviam estar mais calados...

R - Mas houve também alguns problemas com o controlo anti-doping que se diz estarem relacionados. Especialmente no jogos realizados no Vondel Park.

C - Como disse, os críticos dizem muita coisa. Não comento!

R - E quanto a esta transferência. Como surgiu a oportunidade? Apenas por seis meses?

C - Foi tudo muito simples. Houve alguns contactos iniciais, mesmo antes de jogar em Amsterdão e depois as coisas correram muito depressa. Na verdade poderia ter acontecido antes, mas eu e o meu agente decidimos esperar pelo final desta temporada e só agora fazer a transferência. Decidimos fazer as coisas com tranquilidade, muita tranquilidade. Começamos com seis meses e logo se vê....

R - Diz-se que esta foi uma transferência milionária?*

C - Logicamente que uma transferência destas envolve sempre alguns valores mas nada como dizem as revistas. Foi um acordo bom para ambas as partes.

R - E agora já está tudo tratado?

C - Bem está quase tudo. Faltam alguns detalhes mas que iremos tratar com tranquilidade.

R - Mas então? O que falta Canhoto??

C - Falta cumprir-se Portugal!

Indiana Canhoto - Parte III

(continuação da (estupidez) crónica anterior)

Depois de quase 15 dias afastado, aqui vai a versão possível dos acontecimentos ocorridos naquela tarde em Amsterdão. Digo possível porque a memória dilui-se, e qualquer semelhança com a realidade pode começar a tornar-se pura coincidência. Mas a vantagem é que tanto a realidade como a coincidência são produtos da nossa cabeça, por isso pouco importa. Aliás, ninguém quer saber da realidade, senão não se faziam telenovelas.

Pois: a varanda era mesmo alta... Não conseguia sequer agarrá-la para depois me elevar (como se depois tivesse força para isso). Como é que eu poderia chegar lá em cima? Olho em volta. O jardim, tantas vezes visto de cima nas tardes de domingo solarengas a recuperar do Club 11, parecia agora uma selva densa, com arbustos por todo o lado. Recordava-me perfeitamente de observar do alto trono minha varanda o passeio no jardim dos dois gatos que dominam as redondezas: um preto e outro malhado. Curiosamente o gato malhado malha habitualmente no preto que é o gato beta do par.... E provavelmente se o marido da Mohamed entra, quem passa a malhado sou eu!

Logo à entrada do jardim, havia uns tijolos de cimento. Pensei: se conseguisse empilhar uns 7 ou 8 destes se calhar já dava para subir. Arrasto os tijolos para um dos lados e começo a empilhá-los. Que figurinha. A vizinhança mohamed ia-se rindo. Perante o meu desespero, a cunhada da minha vizinha desce da sua varanda um escadote em alumínio. A minha vizinha recebe-o e passo-o para o meu lado por cima da vedação.

OK! Tenho um escadote!! Pelo menos 1.20 a mais eheheh! Obrigadinho oh Mohameda. Subo ao escadote e vejo que apesar de já chegar à varanda, falta-me força nos meus bracinhos de programador para me elevar. A cunhada da vizinha ri-se e graceja: "Devias ter ido para a tropa!" Eu penso "Vai-te f**er oh minha! Deves julgar que eu nasci em Gaza, não?" mas respondo educadamente "Pois é! Fui dado como inapto..." e rio singelamente "eheheh".

Os dois filhos da minha vizinha estão excitadissimos. Correm de uma lado para outro no quintal, riem-se, berram! Deve ser o acontecimento mais fixe desde o natal. Eu só penso: os miudos depois vão contar ao pai que o vizinho "saltou a cerca" e ele pode não perceber que foi em sentido literal e não em figurado e depois vem dar-me um enxerto.

Entretanto surge-me à cabeça uma personagem mítica: o MacGyver!

Só penso: como é que o gajo se safaria desta situação? De certeza ele conseguirira safar-se disto facilmente. E ainda arranjava os brinquedos dos miudos pelo caminho... Mas faltava-me a pastilha elástica, o clip e o canivete!..... Em todo o caso a questão agora era: para ganhar uns centimetros que me dariam o acesso à varanda devo pôr a escada em cima dos tijolos ou os tijolos no topo da escada? Infelizmente, qualquer uma das opções era muito arriscada e tudo parecia estar num equilíbrio muito frágil.


Mas pensando bem isto era culpa do MacGyver! A razão de eu estar ali devia-se de facto ao MacGyver, um gajo de camisa vermelha e preta aos quadrados e com cabelo azeiteiro. É triste, mas verdade. Ele foi um dos grandes inspiradores da minha juventude e foi uma das grandes razões pelas quais me tornei engenheiro, e logo ter vindo para Amesterdão (algumas iterações depois, é claro....). O gajo inspirou-me e agora deixou-me pendurado! Cabrão do "canivetinhos"! Havia de se cortar todo! eeheheh!

Mas nesse preciso momento, o espirito do MacGyver deve ter descido sobre mim e apercebo-me que tenho - desde o inicio - duas cordas de alpinismo penduradas nas grades da varanda. Eu não estava a acreditar: DUAS cordas de ALPINISMO! E era cor de laranja! Como é que eu não tinha visto??


"Está feito" - pensei - "Trepo pelas cordas!!" Mas mais uma vez a minha condição física não ajudava! Ainda andei pendurado numa das cordas tipo Tarzan.... mas não tinha força para subir. Que vergonha! Eu que em tempo fui um jovem atlético agora nem a uma corda consigo subir, e ando aqui armado em Tarzan com a vizinhança toda a rir-se.

O que vale é que a natureza é muito engraça e funciona por compensações! Eu estou fraquinho nos braços mas como ando a estudar muito, estou inteligente e então vou arranjar aqui uma solução para isto puxando pela cabeça (não, não estava a pensar enforcar-me! Não procurava a "solução final"! :)...)

E então surgiu-me, à la MacGyver: e se eu fizesse um laços na corda onde coubessem os pés e assim passava a ter uma escada em corda! Genial! Sou mesmo um gajo esperto! Subo à escada de alumino e cemço a fazer nós para espanto das Mohamedas e da vizinhança! Ouço cochichos enquanto trabalho adincadamente tipo aranhinço. Penso os cochichos deviam corresponder a "O que é que o pacóvio branquinho está a fazer agora: deu-lhe para fazer rendinhas de bilros em cima da escada??"

Depois de várias tentativas para acertar a altura de um dos nós lá consegui criar uma laçada que ficava uns 50 centimetros acima do topo da escada de aluminio, e que já me permitiriar dar o salto para a varanda. Próxima tarefa: colocar lá o pé! A operação era bem mais complicada do que o que parecia inicialmente. Mal levantava um pé da escada de aluminio, esta começava a oscilar muito rapidamente. Tremia!! Parecia que estava mais nervosa que eu! Levantava o pé e ela tremia!.... Decido uma operação ainda mais aparentemente arriscada, mas com mais possibilidades de sucesso. Mantenho o pé esquerdo na escada e apoio-me com o direito na vedação que separa os dois quintais. Fico em posição "Nureyev": se a escada se move, ou se a vedação cede, faço a espargata no ar! E aterro sobre os tijolos

Nessa altura apercebo-me que estou numa posição dificil, muito dificil: penso nos meu pais! Não por qualquer instinto de procura de protecção parental mas porque se um dos meus apoios se vai, e eu me espalho de pernas abertas no chão, a zona mas afectada seria provavelmente aquela que permitiria aos meus pais terem netinhos,,, Coitados deles. Seria uma desilusão muito grande para eles. Para mim seria apenas dores excruciantes até ao final dos meus dias....

Fecho os olhos, ganho concentração, atrás de mim a multidão aplaude. Sinto que tudo se irá decidir num breve momento. O peso de várias gerações sobre mim! A multidão continua a aplaudir. Rapidamente, tiro o pé direito da vedação e fico apoiado apenas no pé esquerdo. Sinto que o tempo para, a multidão parece agora distante, ouço apenas os passarinhos e o barulho do vento. O tempo está congelado, continuo a erguer o pé enquanto seguro com uma das mão a corda. O pé encaixa-se na corda.... Eu volto a respirar, a multidão aplaude em delírio!

Com o pé encaixado consigo erguer-me facilmente. Subo finalmente à varanda. As minha vizinha dá-me os parabéns! Eu respiro fundo! Sei que tudo isto parece um filme... mas sei que ainda não chegamos ao fim e não há garantias que não seja um filme francês!!... Pois: e agora como é que eu entro em casa?? Todas as portas fechadas!

Tento forçar as portas. A madeira estala mas elas resistem! E se partir o vidro?? Um dos mais pequenos? Afinal de contas os vidros são como os corações: devem partir-se em caso de emergência!!

Mas calma!!! A janela de respiração da cozinha, sobre a porta, estava aberta!! Uma oportunidade! O que é que o MacGyver faria?? Provavelmente faria qq coisa com uma chiclet... Mas melhor inspiração que um gajo com cabelo azeiteiro é o Chico Naifas! O Chico Naifas é um tipo que anda pelos lados do Campo Alegre e que já me assaltou o carro duas vezes. O Chico Naifas (ou apenas Naifas para quem já pode partilhar uma certa intimidade por ter sido assaltado duas ou mais vezes) é especialista no truque do arame, para abrir portas do automóveis. O Naifas é mesmo pró! Parece que aprendeu isto em Custoias quando lá esteve cinco anos por tráfico, e melhor que ele agora não há...

Procuro um arame, olho para o chão e nada. Mas há uma solução: o estendal da roupa!!! Pego no estendal e penso se o vou desfazer para arranjar o arame que preciso. Mas verifico que não é preciso já que o estendal é pequeno e cabe precisamente pelo janela da cozinha! Enfio o estendal janela abaixo e com muito jeitinho consigo puxar o trinco da porta. De repente: clique! A porta abre-se!....

Ouvem-se aplausos nas redondezas....

Viro-me para multidão encosto o punho ao peito e em seguida levo dois dedos a boca. Beijo-os e aponto para a vizinhança toda. E bem alto:

"Vocês são os maiores!"

Eles não percebem! E eu retiro-me para os meus aposentos onde tento desinfectar os arranhões que ganhei....