Saturday, February 24, 2007

Trabalho... muito trabalho! E multicultural!!!

A razão pela qual vim para Amsterdão fui para trabalhar na tese de doutoramento com o grupo ILPS aqui da Universidade de Amsterdão.
O grupo é bastante numeroso com muitas pessoas a trabalharem em tópicos parecidos com o do meu doutoramento. Já pude conversar com vários colegas, já lhes fiz uma apresentação do meu trabalho e está a ser possível trabalhar com muita tranquilidade.

O Instituto fica no Parque da Ciência que é a 5 minutos de bicla da minha casa (ou menos se estiver a ser perseguido por uma betoneira psicopata). As instalações são partilhadas com o Instituto de pesquisa nuclear que contem algumas dezenas de investigadores. De certa forma sinto-me um bocado como o Homer Simpson que também trabalha perto de reactores nucleares e não faz ideias de como eles funcionam....


Tenho uma sala bastante ampla no primeiro andar do edifício e vejo da janela para o exterior, um jardinzinho que deve ser agradável no verão. Esta semana contúdo, chuveu bastante e nevou até um bocadinho.

Divido com outros dois dois estudantes de doutoramento: o Mahboob Khalid, de uma tribo do paquistão, e o Sylvain Renaudier que é um franciu de Lyon. São ambos uns porreiraços e eu tenho tentado falar em franciu com o Sylvain.

O Sylvain é uma espécie de "rastrónico", ou seja é um tipo que se veste um bocado à rasta mas por outro lado gosta de música electrónica e passamos o dia a ouvir mp3 e radio na net e a comentar as músicas. "Eh pah Luizzz! Curto esta muzik comó caráçás!" E eu digo-lhe logo "O meiur! Regarda lá esta!"...

O Mahboob é um tipo bastante diferente. Fisicamente, eu diria que ele parece um Pai Natal monhê, mas sem barba e bastante mais novo. Não sei se esta descrição foi boa mas eu sei que se daqui a 30 anos se souber que há um Pai Natal no paquistão, eu terei a certeza que esse personagem é o Mahboob.

Mas o Mahboob encerra toda uma série de mistérios mais vastos. Segundo o que percebi, ele faz parte de um grupo étnico do paquistão que professa uma religião diferente da oficial e por isso foram "expulsos" do país há uns anos e são hoje uma comunidade bastante grande em diáspora. Parece-me que são cerca de 20 milhões. Só muito recentemente é que lhes está permitido voltar ao país.

Soube também, por intermédio do Erik, que é um colega do Suriname (para quem não sabe onde é o Suriname, escusa de procurar perto do Nepal, ok?...:) ), que o Mahboob tinha-se casado recentemente! Com a particularidade que o casamento tinha sido realizado à distância, sem o Mahboob conhecer a noiva: a noiva foi escolhida pelos pais!!! Cena marada esta!!

Esta "multiculturalidade" é aliás alvo de orgulho o grupo ILPS. Noutro dia, um dos séniores do grupo (que tem um visual um pouco assustador, completamente careca e muito magro) estava a dizer ao almoço (almoçamos quase todos juntos, o que é muito simpatico da parte deles) que o grupo tem elementos de todos os continentes, das principais, religiões e das principais orientações sexuais...

Ficou tudo a olhar para ele, tudo calado, enquanto ele se ria sozinho!

Tudo calado...

Até que o Edgar, que é o tipo do grupo que deve passar mais tempo nas discotecas, disse logo (em inglês):

Oh Maior!!! Então diz lá quem são as lésbicas que eu quero saber!!!!!

Granda maluco, o Edgar!! Ganda maluco!!!!

Friday, February 23, 2007

Triologia das Pequenas Vitórias 3: A fuga... para o lado!

O meu meio de transporte em Amesterdão tem sido da bicla! É rápido, cómodo (se não chove), é divertido e é até faço exercício: é mesmo uma boa experiência!

E. agora que me aproximo perigosamente dos 31 (ai!!), dá para recordar um pouco as minhas férias de há 20 ou 25 anos (é uma bocado assustador mas já posso dizer isto!!) em que passava o dia a andar de bicicleta na casa dos meus avós em S. Martinho do Campo. Recordo-me que, na altura, passava grande parte do tempo em corridas com o meu irmão, e tinhamos uma jogo muito engraçado que era ver quem acelarava mais e se enfiava contra uns arbustos. Não nos magoavamos muito mas os meus avós ficavam doidos com darmos cabo dos arbustos. Muito fixe, mesmo... :)

Por aqui não me tenho dado mal com a bicla. Faz-me um bocado de confusão não ter as travões de mão e ter de travar com os pés... mas vou andando! E não é nada cansativo porque é praticamente tudo plano, com pistas com piso alcatroado, só para bicicletas.

Mas logo nos promeiros dias, confesso que cometi alguns erros. Já nem falo de pequenos acidentes, como subir um passeio sem querer porque me esqueci que se travava com os pés, ou de não perceber que estava a andar em contra-mão numa pista de bicicletas (ningéum me dava máximos, eu não percebi!!). É que há os semaforos aqui são perigosos....

Em grande parte das ruas há 4 meios de transporte possíveis: veículos motorizados, metro ligeiro (tipo o nosso do Porto mas eles também têm subterraneo e comboio por isso há aqui uma grande difernça nas alternativas), bibicletas e pedantes (pessoas que andam a pé, claro...). Por isso, os semáforos têm ciclos complicados. Primeiros os carros de um lado, depois do outro, depois o metro, depois as biclas, etc... Os cruzamentos parecem árvores de natal com tantas luzinhas a acender e a apagar. O tuga (nomeadamente eu) tem dificuldade em respeitar os semáforos mas o mais engrçaado é que os ciclistas holandêses também. E isso é demasiado estimulo para um tuga desrespeitador de semáforos. Por isso, nos primeiros dias isto era tudo meu e desde que não visse nada avançava.

Tudo muito bem até ao dia em que o Jarmo ia sendo feito em pasta de salmiakki por ter passado ne vermelho, depois de eu ter passado no vermelho porque um holandês também já tinha passado no vermelho... Nessa altura reconsiderei a minha atitude e comecei a esperar nos semáforos.

Mas os ciclos são longos, primeiro os carros depois o metro.... depois ... depois... Ganda seca.

Na semana, a caminho do Instituto, passada encontrava-me num semáforo que estava fechado para os carros, as biclas e os peões. Estava no ciclo de passagem de metro, que entretanto demorava. No semáforo esparava eu e mais uma betoneira amarela, massiva. O tempo passava e estavamos todos com vermelho... mas nada! O metro não vinha... Eu comecei a olhar para o camionista, e pareceu-me um tipo bastante psicopata e por isso deceidi esperar... Esperar... esperar...

Até que desesperei e decidi avançar mesmo no vermelho. Arranquei a todo o gás! Nesse preciso momento, como não poderia deixar de ser, cai o verde para os carros e o camionista psicopata acelera a fundo a sua betoneira que avança decididamente sobre mim! Ao ver-me a cruzar-me à frente dele, o assassino decide acelerar aida mais obrigando-me a fazer uma diagonal em direcção ao centro do cruzamento. E eu a pedalar, a pedalar, cada vez mais rápido para poder fugir à betoneira!!

Consegui safar-me por pouco!! O tipo era marado! Por acaso não buzinou, senão ai ficava surdo! Mas acho que ele não quis buzinar que era para me atropelar sem ninguém dar por isso! Por acaso, haveria registos fotográficos porque um peão anónimo tirou-me uma foto no momento da fuga em diagonal. Deixo-vos aqui este belo instante fotográfico em que pedalava a grande velocidade para fugir da betoneira!!



A legenda da imagem é: "Oh Maior!!! Se te apanho fora da betoneira faço-te em pasta de salmiakki!!!! " :)

Wednesday, February 21, 2007

Triologia das Pequenas Vitórias 2: Truces Lavados!

Uma das coisas que mais me preocupava na vinda para Amesterdão era, por incrível que pareça, ter de lavar roupa ou arranjar forma de ela aparecer lavada! Neste últimos tempos em Portugal, habituei-me a viver no meu apartamento no Porto como quem vive num hotel graças aos serviços tão eficientemente prestados pela D. Elisa! Mas, das várias coisas possíveis que me poderiam causar ansiedade nesta vinda para o exterior (contam-se por exemplo: a almofada diferente, a falta de café de jeito, o quarto-de-banho tipo cabine telefónica dos anos 30, a inexistência das minhas bolachinha de pequeno almoço, etc...) a falta de uma solução fácil para esta questão era uma das minhas preocupações principais e diárias.

Na semana passada, tendo as minhas reservas de roupa quase esgotadas, decidi que era urgente arranjar uma solução. E a solução não iria passar por usar a mesma roupa interior várias vezes, recorrendo a um esquema de rotação com a roupa a estagiar 3 dias na varanda do meu quarto. O Jarmo tinha-me dito que havia uma lavandaria numa rua aqui próxima que só lhe tinha levado 5 euros por 5 kg de roupa. Porreiro... Chegava-se lá, deixava-se a roupa e passadas umas horas ia-se lá buscá-la!

Confesso que estava um pouco preocupado em levar a minha quase roupinha toda lá para a lavandaria... É que na semana passada ainda não estava assim tão entruzado com os turcos como estou agora ("Oh Maiormed!" é assim que eu agora chamo os Mohameds, uma mistura entre o seu nome e "Oh Maior!") e tinha medo de ver as minhas Levi's 501 a ganharem outras pernas e a desaparecerem....

Levei a minha roupa num saco plástico do Corte Inglês que trouxe de Portugal e lá fui andando pela Rua de Java até encontrar uma lavandaria. Esta lavandaria não era como aquelas que estamos habituados a ver nos filmes americanos. Não estava ninguém a ler um romance, enquanto espera que a roupa seja lavada ou secasse. Era mais simples: apenas as máquinas e um homem ao fundo à espera que alguém entre. Numa das paredes, estavam suspensas várias prateleiras cheias de sacos de roupa lavada. A outra parede era forrada a máquinas de lavar e de secar que laboravam a meio-gás.

O homem, de meia-idade e de pele escura, aproximou-se. Era simpático e sorriu imediatamente para mim. Perguntou-me se era para lavar, eu disse que sim: "São 6 Euros". Pensei que estaria a ser indrominado:então não eram 5 euros por 5 kilos? E eu nem 3 kilos de roupa tinha de certeza, porque não quis trazer a roupa toda não fosse o diabo.... Mas achei que não tinha condições para discutir: o que é mais 1 euro para ter a roupa limpinha! A verdade é que depois vim a saber que o Jarmo foi a uma outra lavandaria que havia mais à frente por isso não estava a ser indrominado.

Ao fim da tarde, voltei para buscar a roupa. O homem voltou a ser simpático comigo e foi-me buscar o saco de roupa. Que fixe. Roupinha lavada e bem cheirosa: um dos meus grandes problemas holandeses resolvidos!! E estava lá todinha! Sou mesmo desconfiado: desnecessariamente...

Hoje voltei lá, já com o Jarmo, para uma segunda recarga de roupa. Mas desta vez já levei os truces para lavar: é que da primeira até tinha vergonha.... :)

Saturday, February 17, 2007

Triologia das Pequenas Vitórias: O Mafioso Local

Estou em Amesterdão há quase duas semanas e aos poucos vou-me sentindo mais integrado nesta cidade.

Na verdade, é fácil viver em Amesterdão. Tudo parece ser bastante perto de tudo. As distâncias são curtas e em 15 a 30 minutos de bicicleta. Eu moro numa pracinha chamada Ceramplein muito engraçada, na parte oeste da cidade a cerca de 15 minutos do centro. A zona chama-se Bairro Indiano e é essencialmente habitado por emigrantes vindos da índia, paquistão, turquia e por outro género de desterrados como estudantes de doutoramento. Do Google Maps tirei este mapa que mostra exactamente a zona onde moro. Em cinco minutos de bicla chego ao Oosterpark e dai apanhi um dos aneis que circundam Amestedão (Mauritskade) e consigo colocar-me em qualquer ponto. Até ao centro sigo pela Weersperstraat, ou pedalo nas margens do Amstel até chegar à Casa da Música cá do sítio que é em Waterlooplein. E são 15 minutinhos... Basicamente, já domino o sítio e já não me perco! Aliás estou tão integrado que já me pedem informações.

Noutro estava com o Jarmo numa das zonas mais giras de Amesterdão (o bairro Jordaan, que fica no centro mas já mais para noroeste) e estava lá 3 cromos lisboetas que andavam meios perdidos. Eu, como qualquer Amesterdanense estava a tirar o cadeado da minha bicla e ia ouvindo a conversa dissimuladamente, como se fosse um mafioso convicto, habituado a controlar. E ouvi: "Ô pa!" (que é "Oh pá!" mas com dicção de Lx) "Estamos perdidos..." dizia um". E o outro: "Mas ô maior! Era por aqui!" "Voces san todos os uns atados: parecem do Porto!" disse um, que me pareceu ser o lider do rebanho. Mas eu eu aí registei a observação! Calado, mas a registar!...

O líder do rebanho, como qualquer bom lider latino, decidiu insultar mais os amigos e depois tomou o assunto em mãos "Da ca o mepa que eu veu ali perguntar, pa!" (Tradução Lisbones-Português: "Dá cá o mapa, que eu vou ali perguntas, pá!"). E o gajo dirige-se a mim, com um sorriso típico do tuga envergonhado que acha que se se rir muito as pessoas o vão ajudar! Eu é que me estava a rir para dentro... He he he...

E depois com aquela pronuncia de tuga "Escuse mi. Ken uie plise telmi uere uui ar nau in disse map?" (Tradução lisbonense a tentar falar inglês - Inglês): "Excuse me. Can you please tell me where we are now in this map?"). E eu respondi: "Oh maior: tu é português, não és?" E ele fez um sorriso meio alividado, como que a pensar "Eh pa! está aqui um tuga que me vai ajudar!"... As outros dois elementos de rebanho aproximaram-se, sorridentes, como se tivessem vislumbrado pasto novo...

Falamos um bocado. "Nós somos de Lisboa, estás cá a morar?" "Viemos de férias 3 dias...", "Ia meu.... etc etc.. e o camano". E já estavamos em amena cavaqueira com o Jarmo à espera. Mas lá peguei no meu mapa, que era bem mais detalhado que o deles (alfaces tó-tós) e expliquei-lhes a onde estavamos "Iá e o camano..." e apontei-lhes no mapa deles: "E agora, estão a ver aquela ponte... não é na primeira, não é na segunda, passam a terceira e depois viram na quarta à esquerda.... Estão a ver?" "Ia meu!"... "OK! Então boa sorte e chau...", "Chau pá!". E lá foram...

Obviamente, não podia deixar de dar uma maozinha: não era na quarta ponte era na primeira e eles devem ter ido parar a um bairro turco qualquer de onde para sairem devem ter tido de vender o relógio a um Mohammed que ainda lhe deve ter ficado com as camisolinhas de marca.... Agora que vivo no bairro Indidano gosto de dar uma maozinha aos meus vizinhos turcos... He he!

POOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTOOO

Efectivamente, sem moralizar! :)

Monday, February 12, 2007

Umas coisinhas sobre o Maniche Filandês

Não sei se já reparam na foto de baixo mas o Jarmo parece-se com o Maniche, nos tempos áureos desse eloquente jogado (ao nível de um Petit ou Paulo Bento)... E venho a descobrir algumas coisas acerca do Maniche... quero dizer do Jarmo... à medida que o tempo passa.

Já tinha reparado que o rapaz tem um certa tendência para emborcar cerveja. A grade de 24 cervejas foi em 4 dias e eu juro que só bebi uma ou outra. Já vamos a meio da segunda grade. Mas ele além de beber muito, não para de comer. Agora que acabaram os Super Salmiakkis (que felizmente não há aqui na Holanda porque eu já não aguentava com o sabor a pasta de dentes daquilo) ele comprou uns chocolates pequenos que vêm num saco grande. Ele não consegue parar de comer os chocolates. Diz-se sempre "Estes são os últimos!" e lá come o chocolate. Passados 2 minutos "Não, não: estes é que é mesmos os últimos!" e aspirar mais uns cinco...

Quando ele finalmente se controla, eu espero meia hora e depois digo: "Oh Maior! Aqueles teus chocolates são muito fixes!!" E ele diz São, não são, pá! Vou buscar! Queres??". E eu digo: "Nã nã... deixa lá... Come tu!...". E ai ele come alarvemente mais uns 10 cocholates.... Mas são os últimos, claro...

Mas ele não é esquisito: está sempre a comer! É impressionante! É que depois atrapalha: no domingo fomos andar de bicla, e ele estava sempre a querer parar para morfar qq coisa: ou é uma fatia de pizza turca, ou é um café ou é um coca-cola porque tem sede. FDS! Que o gajo não para de dar aos queixos em vez de pedalar!! Pedala oh maior! Pedala!!

Agora a parte mais negra da personlidade do Jarmo é que ele tem uma certa tendência para o ócio, o que aliás me parece muito perigosa aqui em Amesterdão... É que agora que estamos pendurados na rede do vizinho, o Jarmo passa o tempo a jogar poker pela internet. Mas a dinheiro!! Ele faz torneios de 150 dolares! E parece que se vai dando bem e ganhando umas coroas com isso... De vez em quando sai-lhe um "FDS!! O gajo tinha o flush!! Perdi 50 euros!!". Entretanto sorve mais uma cerveja e morfa 3 ou 4 chocolates.... Eu vou dizendo: "Eh pá! Ganda seca.... Força ai: torra mais dinheiro!", enquanto vou escrevendo no blog!

É isso ai o maior! "Casino Ceramplein: fete vos juex!!"

A minha bicla!!

Hoje tive um dia muito longo e não consigo escrever muito no blog. É que foram muitas coisas que tive de tratar.... ufa.....

Mas deixo-vos aqui uma imagem da minha bicla.

É usada mas é porreira. Tem luzinha à frente e atrás! Reparem que não tem travões de mão. Mas é muito porreirita. E anda bem... Comprei também uma corrente poderosissima, por causa das coisas. Assim não há turco que a leve!

Por falar em turco, banho-turco, banho! Hoje apanhei um banho dos grande a vir de bicla para casa. Estava a chover e estava frio. Doi-me a garganta :(

Ah! Mas voltando às coisas giras: ainda não consigo sacar piões mas ando a tentar.... :)

Sunday, February 11, 2007

Eu acho que isto é um bocado de exagero...

Este assunto é um bocado pesado e quem acabou de jantar deve passar à frente. Eu até nem coloquei pistas no título porque achei que poderia causar reacções indesejadas em quem ler.

Eu já sabia que os holandeses gabam-se de ter um território plano, que pode ser atravessado calmamente de bicicleta. Eu próprio o pude comprovar e foi com muito gozo que hoje andei de bicla por Amesterdão, mesmo com a ocorrência pré-obituária, em que o Jarmo ia quase ficar feito em pasta de Salmiakki.......

Mas o que é demais é exagero!! Tenho vindo a verificar uma coisa que, apesar de ter reparado logo no primeiro dia que aqui cheguei, só agora, passado quase uma semana, é que me sinto com exemplos suficiente para dizer que isto é generalizado.

É que os holandeses levam isto do plano muito a sério e, pelos vistos, até as sanitas são planas. Planas mesmo!! Não têm aquela pequena inclinação que faz com que as deposições sigam o caminho apontado pela força da gravidade. Eu não quero entrar em grandes detalhes e achei que por uma foto aqui não era apropriado, mas acho que é deveras intrigante...

No entanto, depois de fazer algumas observações - várias por dia em diferentes modalidades - percebi que pode haver alguma coisa de bastante perspicaz na opção "sanita plana". É que a àgua proveniente do autoclismo faz um efeito de redemoinho quando atinge a zona plana da sanita e o resultado total de remoção parece ser mais eficiente, MAS com menos água.... Mas não sei se é só impressão minha.

Será que há alguém que percebe da hidrologia que possa comentar??? Para mim é um mistério!...

Amsterdam by Night!!

Sexta-feira fui passear à noite! Aqui estão algumas fotos do ambiente nocturno de Amsterdam.







Claro que não tirei fotos no RLD porque fiquei um bocado com vergonha de ficar especado perante tanta tipa descascada!! Um bocado de exagero, digo-vos.... Há de todo o tipo! Que cena marada!!

Comprei um bicla!

Era inevitável: tive de comprar um bicla! O Jarmo disse-me "Oh maior! É melhor comprares um bicla que eu pacóvio mas não tanto, ok?! E eu disse "O pá! Não stresses, ok? Bute lá comprar um bicla!" (mas tudo em inglês, claro!) E fomos.

Há uma loja que repara e vende biclas em segunda mão aqui relativamente perto. Foi lá que o Jarmo comprou a dele. Então fomos até lá, eu a pé, e o Jarmo na sua bicla azul. Quando lá chegamos, o sítio tinha de facto muitas biclas! Mas havia de todo o tipo: com duas rodas, com 3 rodas, para andar sentado ou deitas, para levar compras ou para levar miudos. Tudo!!!

Não achei que as coisas fossem baratas. Claro que não ia comprar uma bicla nova, estava a apontar para uma bicla em segunda mão. Na secção de biclas em 2ª mão havia uma super bicla laranja que eu gostei logo. Mas o preço era proibitivo: 400 Euros! Quase tanto como o preço do meu antigo Renault Twingo e, o meu Twingo era incomparavelmente melhor! Depois de alguma voltas por entre as centenas de bicicletas lá encontrei uma semelhante à do Jarmo, e que por isso já tinha provado ser resistente. Foi essa que levei.

Depois de uns ajuste à altura do volante e do selim, a bicicleta estava perfeita para mim! Partimos em direcção ao centro!!

Uma das particularidades das biclas holandesas, ou pelo menos de muitas que tenho visto, é que não têm travões de mão no volante. O travão é accionado fazendo força nos pedais em sentido contrário ao pedalar. Depois de uma pessoa se habituar até parece natural, mas os primeiros tempos são confusos.

E lá fomos andando pelo centro, parando de vez em quando para tomar um café ou comer qq coisa. A cidade é feita para andar de bicicleta! Diverti-me imenso! E só por duas vezes era para ter um acidentezito. Mas o Jarmo ia-se tramado: eu passei num semáforo para bicicletas na quima (mesmo à tuga!) e ele veio atrás mas os carros já tinham começado a andar e um deles têm de travar a fundo e começou a buzinar. Foi uma sorte porque senão lá ficavam Super Salmiakkis espalhados por Amesterdão......

"Oh Jarmo! O último a chegar a casa aspira o chão!!! Anda lá oh maior!!"

Saturday, February 10, 2007

Mais sobre Male Bonding

O Jarmo está a ser um tipo porreiro. Hoje por exemplo fomos de bicla até ao centro da cidade, logo pela manhã e só voltamos à tarde. "Fomos" mas ele é que foi a pedalar porque eu ainda não tenho bicla, que é, aliás, uma coisa que eu tenho urgentemente que arranjar porque senão estou tramado. Agora, por exemplo, é sábado à noite, está a chuviscar e ir a pé até ao centro da cidade é 45m-50m, e não me está apetecer ir a pé! De bicla são 15 minutos e é giro! Mas a pé, hoje não... Aproveito para descansar um bocado porque a semana foi longa :(

Mas o Jarmo é este cromo que está na foto:


E então ele disse-me "Oh Saharmentou! Queres ir de bicla até ao centro?" E eu disse: "Oh maior: não achas que é uma bocado perigoso?"... E ele disse "Oh pá! Tá tudo controlado! Sobe aí para as traseiras!" E eu "Oh Jarmo! Vai devagar porque não me quero estrampar!" E ele "Relaxa oh maior!"....

E assim fomos até ao centro, com chuva miudinha nas fronhas do Jarmo (eu estava protegido por ele, e ele é que apanhou toda a chuva!! Pacóvio branquinho!!! He he he!) Foi uma tarde muito bem passada. Andamos de um lado para outro, a descobrir Amsterdão! Acho que já me oriento por cá.... Mas o Jarmo teve de pedalar com os meus 80kilos uns 4 ou 5 km para cada lado... Eu adorei! No fim tinha um kitkat cá em casa e partilhei com ele. Ele ficou contente! E afinal de contas, não sou eu que estou com as pernas estouradas.... E é bem mais fixe que um Super Salmiakki, certo?

Mas que caraças: é sábado à noite! Oh Jarmo: prepara aí a bicla que me vais levar ao centro! Eu pago-te um charro, oh maior!!! Ah: e leva um casaco largo que é para servires de pára-vento, ok? :)

Contributo para a História da Pirataria Holandesa

Tenho vindo a perceber que a holanda é terra de piratas! Já é assim desde o século XVII e como poderão verificar, ainda hoje há vorazes piratas na Holanda!

Uma das histórias que mais me tem impressionado acerca dos piratas (tenho feito alguma investigação) foi a de um tal Roche Braziliano. Este não era apenas mais um pirata que assaltava galeões trazendo ouro da américa do sul: era um cruel assassino de perna de pau (e foi possivelmente o verdadeiro inspirador do nosso Perna de Pau)!!

O nome Roche Braziliano provêm de Pedra do Brazil. Esta relação sustenta a hipótese defendida por alguns estudiosos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto de que os Holandeses já andavam pedrados no século XVII e a traficar no Brazil. Mas o Roche era bem pior do que isso. A lenda diz que quando o Roche bebia uns copos e ficava bebado ameaçava de morte quem não bebesse com ele. Pior: ele tratava os prisioneiros espanhois com especial barbaridade: costumava cortar-lhes os membros e ponha-os a assar! A mim o que me preocupa é que eu agora vivo no meio desta gente. E por acaso confesso que depois de ler sobre o Roche perdi alguma vontade de comer salsichas por aqui não vá a receita ter perdurado desde o tempo dos piratas.... Mas o que vale é que o Jarmo não sabe disso por isso vou tentar impingir-lhe o meio quilo que tenho no frigorífico!!

Mas, ao contrário das salsichas (mesmo de espanhol), a vingança serve-se fria! É que eu sou agora um pirata ibérico na Holanda! Como seria de outra forma possível eu estar a escrever esta página ao sábado (depois de mais uma tarde na zona central)? Não estou num net café: estou em casa ligado à rede wireless do vizinho!!!! Estou a navegar à PALA!!! Tipo mesmo com uma pala de pirata no olho!!

Se calhar é mais um pacóvio branquinho que deixou a rede aberta!! Ou um Mohamed qq!....
Mas isso não interessa nada! Tenho rede wireless como nem sequer tenho no Porto! He he he!

Ass:
Barba Ruiva

Friday, February 9, 2007

Estava vermelho.... mas era para avançar!!

Como de costume não consigo para quieto. Então decidi dar uma volta por Amsterdão by night! Fui andando, andando e quando dei por ela estava a ver luzes vermelhas por todo o lado.... Estava no Red Light District! Juro que foi completamente por acaso! Neste momento nem sei bem o que pense. Aquilo abalou as minhas convicções....

Nem vou escrever nada sobre o RLD agora porque estou baralhado e cansado. Deixo-vos só um excerto de um Herberto Helder que me foi enviado hoje por outro grande emigra (o Mike Bastos da Suiça) e que me parece que vem mesmo a propósito de tudo o que vi e que sinto. Reza assim:

"Um poeta está sentado na Holanda. Pensa na tradição. Diz para si mesmo: eu sou alimentado pelos séculos, vivo afogado na história de outros homens. E a sua alma é atravessada pelo sopro primordial. Mas tem a alma perdida: é um inocente que maneja o fogo dos infernos. Abre-se ao fundo da sua meditação holandesa um grande lago: a solidão, e em volta passeiam vacas. A Holanda agora é isto: vacas, e - no centro - o inferno, a revolucionária inocência de um poeta sentado.
- Por quem me tomam? - pode ele perguntar. - O que eu quero é o amor.
E sempre assim, sempre: cidades inexplicáveis no meio da terra ou prados imensos onde se tem medo. Prados para vacas, não para um poeta di-la-ce-ra-do por uma tormentosa inocência."

Herberto, eu também vi muita carne hoje aqui na Holanda.
Herberto, eu identifico-me contigo: a minha alma também foi atravessada por um sopro primordial...... Ou até mais que um!

Herberto, és o maior!
Um abraço do Canhoto......
O Jarmo também te manda uma abraço... e oferece-te um Super Salmiakki!!

Sobre Male Bonding...

Decidi voltar a este assunto intrigante do male bonding enquanto estou a preparar o meu jantar: um arroz e umas salsichas Braadworst que têm um tamanhão que parecem pepinos albinos... Parecem boas...

O Jarmo é um tipo porreiro. Ele é matemático e está a tirar um doutoramento em lógica, o que faz dele um tipo muito coerente. A primeira coisa em que o gajo é coerente é que continuava a insistir em oferecer-me guloseimas filandesas que eu nem a um suíno daria... mas ele gosta e deve querer à força toda que eu também goste. É aqui que se levantam os problemas do male bonding.... Eu em jeito de brincadeira disse: "Oh pá! Esse coisa sabe a pasta de dentes! he he he..." Ri-me que era para o Jarmo não levar a mal. Ele ficou pensativo (é da lógica) e disse-me "Eh pá! Se calhar tens razão! He he he!" e riu-se! E isto é maravilhoso porque foi surpreendente. Mas ainda assim o gajo meteu mais duas pastilhas à boca! E riu-se.... E eu também! Resultado: male bonding!

Tenho de ir ver se as salsichas estão prontas! Venho já....



Para verem melhor do que eu estou a falar (das pastilhas, não das salsichas) têm aqui ao lado uma foto da embalagem das pastilhas que sabem a pasta de dentes. Até têm um lindo nome Super Salmiakki (acho que a versão original tinha sabor a salmão, dai o nome). Mas reparem: a fábrica da coisa chama-se "Fazer"....
Eu estou um bocado farto de andar a ter de lavar os dentes na pia da cozinha. Com um bocado de sorte convenço o Jarmo a deixar de cuspir pasta de dentes para lá e começar a comer mais destas pastilhas....

Mas o Jarmo é nórdico e isso tem algumas particularidades curiosas quando se refere a bebidas alcoólicas. Logo uma das primeiras coisas que me disse foi (em inglês, claro): "Oh pá! Sabes o que é que é fixe aqui?" "Eu não Jarmo... o quê?" retorqui. "É que aqui as cervejas são mesmo baratas, pá!" - voltou ele à carga com uns olhos esbugalhados e sedentos.... E eu disse "É pá! Não me digas..." que é uma das mais importantes frases do ritual de male bonding. No entanto, reconheço que foi um erro porque o encorajei a continuar. Ele normalmente é reservado e por acaso até nunca me interrompe e fica à espera que eu fale até ao fim para depois responder. Aliás, isso é uma coisa que me irrita porque ele deve estar à espera que eu faça o mesmo, mas isso para mim é impossível porque acho que duas vozes ouvem-se sempre melhor que uma...

Mas com isto da cerveja o gajo ficou possuído! E não se calava. "Oh Jarmo não achas...." "Oh Luís não tás a ver!!" (tudo em inglês) "Aqui compra-se uma grade de 24 cerveja por 6 euros. Oh pá: isso é quanto custa uma cerveja lá no fim do mundo onde eu vivo " (há aqui algumas alterações feitas pelo narrador porque ele não disse "fim do mundo" mas quando eu conseguir que ele me empreste uma fotografia lá do sítio vocês percebem o que eu quero dizer...). "Temos de ir comprar uma grade!" Vocês não estão a ver: nós praticamente não temos comida em casa mas o gajo acha que se alimenta de cervejas.... Deixá-lo!

Foi aí que ele começou a expandir-se... Eu acho que este tipo guarda profundos segredos!! Viram o "Blair Witch Project"?? O gajo mora num sítio assim.... Ah pois é!... Se eu desparecer: foi o Jarmo! Mas por enquanto ainda parece estar tudo bem....

Bem... E então ele começou a dizer-me "Oh maior! Sabes que lá na Finlândia o álcool é muito caro então nós apanhamos uns ferries e vamos para a suécia ou para a estónia onde podemos comprar bijecas muito mais baratas."... E eu "Ai é pá?" para lhe dar corda... E ele foi esticando: "E é muito fixe. São os cruzeiros do álcool como lhes chamam." "Não me digas pá"....

Mas continuou e entrou na parte mais interessante: "E não estás a ver o maior! As suecas são muito giras....". E eu logo "Ena pá! Conta lá!!!..." E ele logo "mas sabes onde é que gajas boas mesmo boas mas muito muito boas"... Eu ai confesso que fiquei pálido! Será o os gatos fedorentos já são um sucesso na Finlândia??? E o Jarmo " Mas mesmo boas ao ponto de uma gajo parecer uma ventoinha com a cabeça a girar para todos os lados".... E eu ia dizer "Será que é em Gond..." E o Jarmo logo "É na ESTÓNIA, pá!!! É na Estónia.... Alguns dos cruzeiros são até lá e nos compramos uma bijecas e depois vamos ter com as estonianas....."

Eu ai achei que devia começar a segurar o gajo porque daqui a nada estava a saber detalhes de casas de strip estonianas. Então desferi um golpe mortal para a conversa:

"Mas sabes o álcool não ajuda muito ao coiso, não sabes?...."

Ele parou.... Depois riu-se.... e eu também...

"Vai buscar mais uma cerveja oh Jarmo! És o maior!!! He he he!!"

"Tu é que és oh Saharmentou!!"

Há cenas do caraças: "male bonding"!.... :)

A propósito do Canhoto....

A propósito do Canhoto, um poema de Carlos Drummond de Andrade.
Obrigado Gabi! Beijos para a Cidade Maravilhosa!


Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Thursday, February 8, 2007

Mais sobre a minha casa!

A minha casa fica num bairro que se desenvolve em torno de um jardim. O sítio é simpático. Na foto do lado podem ver o que eu vejo da sala para o exterior. É calminho, mas até é bastante central. Podem também observar uns passarões a levantar vôo. Parecem-me um bocado perigosos: devem ser da família do "the flying dutch"!

E não podia deixar de mostrar o quarto-de-banho. Tem 1.5 m por 85 cm! É tão apertada que tenho de tirar a camisola antes de entrar porque lá dentro não tenho espaço para esticar os braços.... E não tem lavatório. Lavamos os dentes na pia da cozinha! É triste... De facto, logo quando cheguei eu tinha reparado que havia espelhos na cozinha e na altura não tinha percebido para quê? Para o frango fazer ele próprio a sua decapitação antes de saltar para o tacho?? Agora percebo que é para nós fazermos a barba sem nos decapitarmos como os frangos!! Cena marada....

Mas reparem no maravilhoso tapete que custou 8 euros. É azul! Fui eu que escolhi a cor mas o Jarmo também gostou. Deve ser da bandeira da filândia. Fizemos um buraco para a água do chuveiro escorrer (mas não se vê). Entretanto o Jarmo confessou-me hoje que o tapete não parece ser muito eficiente e que a água acumula por baixo. Eu quero lá saber! Eu tenho chanatas!!! Ah! Ah! Ah!


E o turco que nos vendeu também deve estar a rir-se: "Mohamed" - diz o gajo para o filho - "Hoje devias ter visto! Comi a cabeça a dois pacóvios branquinhos!! Copinhos de leite Mohamed! Copinhos de leite.... Oh Maria! Traz-me lá o chá menta! Estás à espera de quê!!! Parece que queres que te chegue a roupa ao pelo" - os hábitos muçulmanos são mesmo assim - "Mas Mohamed! Tens de aprender com o teu velho pai! Os pacóvios queriam um tapete e levaram um tapete especial: um tapete voador!! O dinheiro deles voou directamente para o meu bolso!!! Ah Ah! Mohamed! Ah ah! Oh filho!.... Mas que me...da é esta! Vai lá pedir o chá menta à tua mãe que se eu me levanto acerto-lhe o passo!! Ai acerto, acerto!!..."

O meu instinto não engana...

O Jarmo é um tipo fixe. E pelo que percebi não é benfiquista....
É lá de uma terriola nos arredores de Helsinkia onde está frio todo o ano e no inverno ficam -40C...
Falamos um bocado e ele ofereceu-me uns doces filandêses que ele tinha: uma espécie de gomas brancas com umas coisas lá dentro. Foi simpático. Aquilo sabia mal mas achei que era não era o momento certo para me sair com uma "O pá! Tu és um gajo simpático mas isto sabe mal como o caraças!...". Por isso comi. Em troca dei-lhe umas bolachas de aveia que não são umas bolachas quiasquer: são as minhas bolachas de pequeno almoço. Ele comeu duas e deve ter pensado "O pá! Tu és um gajo simpático mas isto sabe mal como o caraças!..." mas em filandês, claro! E assim fomos estabelecendo aquilo a que os técnicos chamam "male bonding". Passa por comer mal, arrotar em conjunto, dizer asneiras, etc.... mas ficamo-nos por comer coisas que não gostamos.

Uma das coisas que ambos concordamos é que o nosso quarto de banho não tem condições. Por isso na terça (anteontem) fomos comprar qualquer coisa que servisse de tapete e isolasse o chão frio e húmido. O quarto de banho é muito apertado: tem uma sanita e um chuveiro quase por cima da sanita. É mau, mas se fosse ao contrário acho que seria pior. Por isso, vai-se andando... Eu trouxe as minhas chanatas mas o Jarmo não deve ter umas porque acho que isso deixa entrar muita neve.... :)

Saímos para comprar isso e também umas a panelas, garfos, facas, pratos, copos e outras coisas mesmo urgente. O Jarmo já estava mais orientado do que eu e por isso lá me foi explicando onde ficam as lojas. Iamos comentando as coisas diferentes que viamos relativamente aos nossos países. Acabamos por entrar numa das ruas por onde eu já tinha andado e lá fomos vendo aquelas lojas que na minha opinião deviam também trabalhar no mercado negro de tráfico de orgãos... Achei aqueles gajos de bigodaça assustadores: muito piores que um GNR à moda antiga!

O Jarmo chamou-me atenção para umas "pizzas turcas"! Dizia que eram boas... E eram de facto. Por 1 euro comesse uma pizza pequena, cerca de 20 cm de diâmetro, enrolada tipo taco. Bastante boas. Cada uma morfou a sua enquanto iamos decidindo o que comprar e onde comprar...


Finalmente demos com uma loja onde o Jarmo viu aquilo que cria. Eu não quis interferir muito neste caso porque eu estava servido com as minhas chanatas e ele é que precisava do tapete. Eu decidi simplesmente alinhar. O tipo da loja era um paquistanês ou turco ou parecido que não falava inglês. "How much is this?" "Uone miter izz twe euros!" respondeu.... "OK! Corte aí um metro", disse o Jarmo enquanto morfava a pizza. Eu que estava cheio de fome acabei primeiro a pizza e entrei para ver o gajo cortar a coisa. Pareceu-me que um metro era demais e que 80 cm chegariam.... Pedi para o gajo cortar só 80 e ele foi simpático e curtou mais 5 cm. No fim peço-lhe: "quanto é, oh pá?" mas em inglês, claro... E o gajo responde-me "it'zzz eite". "Quanto?..." E o gajo: "eite"... O Jarmo entra e pergunta "O pá! Mas afinal não eram 2 euros o metro?" E o gajo "not tuu it'zzz tene"...

O cabrão do turco!!! Eu bem me parecia que aquilo era para ser gamado......

O Jarmo ficou em estado de choque!! Se calhar lá na Filandia isto não acontece. Parece que os turcos ainda lá não chegaram.... Nem os portugueses!!! He he he!!!

O meu instinto não engana!

O inesperado final do emocionante caso dos dois estudantes desaparecidos!

Pois encontro agora algum tempo para contar o final deste caso e também para levantar mais alguns misteriosos casos de um local onde toda a gente pensa que a terra é... plana!!!

Na segunda-feira passada sai para comprar um edredão e comida, por volta das cinco e meia. Deixei para trás um intenso mistério que não consegui resolver (há também outro que irei falar depois que tem a ver com a casa de banho....): o que era feito do iraniano e do benfiquista!?

A minha casa fica numa zona bastante central. Há varias ruas mais ou menos paralelas que saiem desta zona e vão em direcção ao centro da cidade. Decidi avançar por uma dessas ruas, tentando encontrar uma loja que me servisse. Na verdade, decidi vaguear um pouco para ver onde é que estava. Só tinha medo de me perder: nunca fui bom a orientar-me no escuro (refiro-me a ambientes exteriores, claro!) e ainda tenho em memória uma vez que tentei uma aventura semelhante em Birmingham e depois andei duas horas à procura do caminho de casa. Se na altura não tivesse sido ajudado por um paquistanês que estava a passear o seu pitbull, e que ia no outro passeio (eu obviamente não atravessei, tive medo que o cão me confundisse com um "bife"...), não sei o que seria de minha nessa noite.

É que os holandeses, tal como os inglêses têm o hábito irritante de fazer as casas todas iguais. É sempre tudo muito arrumadinho, tudo planeado, tudo com a mesma volumetria. É que em Portugal há sempre aquelas aberrações arquitectónicas que sempre servem para uma pessoa se orientar: "Ena! Que prédio chungoso! Ah! Já sei onde estou!!".... Aqui não dá para fazer isso! É como navegar em alto mar!

Fui andando, a noite estava cerrada, via-se muita gente a andar de bicicleta. Toda gente bulia de um lado para outra, parando numa ou noutra loja para fazer compras. Eu ia andando, tentando encontrar um loja de objectos de casa. O pior é que o "comércio tradicional" aqui é controlado pelos imigrantes do médio oriente (iranianos??) e, não sei se isto quer dizer que eu sou uma pessoa preconceituosa, mas senti-me tão seguro como numa medina em Marrocos. De facto, olhando para as lojas fiquei com um certo receio de entrar e ser assaltado lá dentro!! Isto é, eu estava a imaginar-me a comprar um coisinha qualquer e a ser indrominado pelos gajos!! Fui então andando para ver se encontrava uma loja que não parecesse tão perigosa. Com estas indecisões, e sem me aperceber, a hora de fecho das lojas (18h00) chegou e eu fiquei sem edredão!!


Decidi passar ao plano B! Pensei: depois logo me arranjo... o que é importante agora é comer bem! Porque se eu comer bem vou ter muita energia e vou conseguir produzir muito calor e por isso aguento a noite fria. E também tento, claro, ligar o aquecedor a gás que está na sala! Perfeito! Fui a um supermercado, que pelo que percebi só fecham às oito!

Uma coisa que vos posso dizer é que os preços de supermercado aqui são absolutamente iguais aos daí! A diferença é que estes tipos ganham o dobro ou o triplo.... Por acaso há algumas excepções: o tomate por exemplo é extremamente caro. Mas o queijo mozarella é a metade do preço.... Como não ia cozinhar, comprei tomate, pão, queijo, e também outras coisas para o dia seguinte.

Volto a casa e nada! Tudo igual! Decido fazer de comer, como e começo a pensar em como combater o frio. Tinha dois lenções. Não é muito mas era uma ajuda.... Tenho uma toalha de felpo. Grão a grão lá ia.... Mas não chegava.... Bem... posso sempre ficar com uma T-shirt, uma camisola interior, o pijama e dois pares de meias... e cuecas... e uns truces que a minha mãe lá me obrigou a trazer e eu agora bem vejo que foi bom a ideia (por acso fico bem de truces: pareço o Nuriev em palco....)

Enquanto arrumava as coisas ouço gente a subir as escadas. São várias pessoas!! É o iraniano e o português: será que dormem juntos!! Benfiquista paneleiro!! É melhor ter cuidado....

Abrem a porta. E aparece uma cabeça: um gajo com cabelo comprido, loirito! Deve ser o paneleiro do lampião!!

"Hi I'm Jarmo! You must be Luis!"

Ena! O gajo sabe o meu nome!? Sou conhecido entre paneleiros?? Mas isso é perigoso! E entram mais dois manfios loirinho. Olha... olha... os gajos são malucos....

"These are my friends: they are also from Finland but they came here just for a visit!"

Ah!! Caso resolvido!!!
Então é isso! Eu tinha recebido um mail de um estudante filandês a semana passada a perguntar-me se a casa era boa. Eu respondi-lhe que ainda não tinha chegado à holanda e que só estaria na próxima semana. Então ele é que é o "iraniano"! Os tipos da agência imobiliária confudiram tudo. A casa era a dividir por mim e pelo filandês. O verdadeiro iraniano já se tinha ido embora na semana passada e o outro português seria possivelmente eu! Eles contara-me duas vezes.

Espera lá.... Isso quer dizer que o benfiquista paneleiro seria eu?!?

PARA TUDO: nem BENFIQUISTA nem PANELEIRO!!!!

:)

Wednesday, February 7, 2007

A minha casa...

Esta é a minha casa! É o piso 1. Vê-se a janela com os estores corridos. A porta que se vê não é a minha! A porta que custou a abrir está à direita desta. Retomaremos o caso do iraniano em breve......

Tuesday, February 6, 2007

O caso do português e do iraniano desparecido

Enquanto chove torrencialmente lá fora e toma este café fatela que pelo menos está quente, vou tentar descrever o misterioso caso do português e do iraniano desaparecido.

Cheguei segunda dia 5 a Amsterdão. O aeroporto de Schipol é caótico com gente de todas as partes do mundo a passar de um lado para outra. Fica-se logo com a ideia que Amsterdão é uma cidade verdadeiramente internacional.

O meu primeiro objectivo era, depois de recolher as malas, procurar forma de ir para o centro da cidade. Uma vez chegado ao centro iria à empresa imobiliaria que me alugou o apartamento, a dividir com um outro português e com um iraniano.

Depois de dar uma volta pela secção de informações acabe por perguntar ao um condutor de autocarro como chegar ao centro de Amesterdão. Ele disse-me que seria melhor ir de comboio. Voltei para o interior do aeroporto, comprei o bilhete numa máquina automática, desci para o piso -1 e apanhei o comboio 10 minutos depois. Só ao tentar entrar no comboio, com corredores bastante apertados é que me apercebi do volume e do peso da bagagem que levava comigo...

Bem, lá cheguei ao centro, apanhei um taxi para a morada da empresa imobiliária, e depois de andar às voltas no quarteirão finalo taxista lá deu com o prédio. Peguei nas minhas coisas e fui a recepção pedir para falar com o meu contacto. Ainda tive de esperar cerca de 45 minutos e passar por uma cena ridícula. Enquanto esperava pela pessoa que não conhecia sentou-se no hall da entrada mesmo ao meu lado uma senhora que esperava também por alguém. Cinco minutos, sai dos escritórios do fundo uma senhora que acena na minha direcção e eu levanto-me, sorridente e aliviado depois de quase meia hora e aproximo-me da senhora que quando está a 1 metro de mim diz: "It's not for you, it's for her...." e eu fico especado de pé a vê-la passar por mim e a ter com a senhora que se tinha sentado ao meu lado. Acho que devo ter ficado um bocado vermelho porque acho que fui bastante efusivo quando a vi entrar. Mas não perdi a calma e usei a técnica do "telemóvel à executivo": sentei-me e peguei no telemóvel e comecei a fazer de conta que estava a fazer qualquer coisa muito importante :)

Não sei se o meu ar de executivo ajudou, mas o que é certo é que 5 minutos depois estava a ser atendido. Assinei o contrato, fui aos correios pagar a renda e a caução e 10 minutos depois estava com a chave do apartamento na mão. O próximo passo era apanhar um taxi até à minha nova casa!

Não foi fácil apanhar o taxi: ainda tive de esperar uns 20 minutos por um taxi livre. Depois lá parou um. Era guiado por um tipo com aspecto de paquistanês. Dissel-lhe a rua e ele teve de ir ver ao mapa. Tendo por modelo de referência os taxistas portuguêsa pensei: "Estou tramado! O gajo vai ver que eu sou estranja e vai fazer o que os taxistas portuguêses fazem aos camones: vou conhecer os arredores de Amesterdão!!"... Mas estava demasiado cansado para reagir e deixei-me ir nas esperança que o gajo lá simpatizasse com mais um emigra como ele, que é o que eu agora sou!

Depois de mais 15 minutos lá chegamos. Parecia uma baixo daqueles construidos logo depois da 2ª guerra mundial. As casas todas em tijolo, todas iguais fazendo uma espécie de círculo em torno de um jardim. O homem lá me tirou a bagagem da mala desejou-me boa sorte e eu ai confesso que me senti confiante e até integrado.

Aproximo-me da entrada: duas portas! Qual das duas é a minha? Faltavam indicações. Tento abrir uma com umas das 3 chaves possíveis do molho que recebi na agência imobiária: não dá! Tento outra: não dá! Tento outra: nem entra! Mudo de porta e repito o procedimento: não dá!!!!! Pronto, é agora que me tramo: as coisas até estavam a correr bem! A tipa da imobiliária enganou-se nas chaves! Toco à porta: ninguém atende! Pronto: vou morrer congelado! Volto a tentar as chaves todas! Nada!!! Fui! Isto até estava a correr bem! Toco mais! Ninguém! Será que devo voltar à imobiliaria! Não seria ridiculo....

Volta a tentar mais uma vez e a porta da direita abre: mas a fechadura roda ao contrário!!!!!! OK! Claro! Eu é que estava a fazer figura de parvo: espero que ninguém tenha visto!!! Será que o iraniano e o tuga estão em casa?

Subo a escada apertadas e muito ingremes até ao primeir andar. Roda a chave. Tudo bem, entro! Mas está tudo um bocado vazio.... A casa é pequena: um quarto vazio, outro semi-ocupado (o iraniano?) a sala tem duas cadeiras e duas mesas. A cozinha é minuscula. O quarto-de-banho é pequeno e não tem lavatório.... :(

E só há dois quartos? Mas nós somos 3? Ah! Eu não quero saber! Eu fico já com este quarto e ou iraniano e o benfiquista que se entendam no outro.... Mas o pior é que nem roupa de cama tenho! Trouxe lençois mas não há edredão!! Talvez consiga ligar o aquecimento??.... Nem isso.
Decidi sair para comprar comida, um edredão e explorar as redondezas. São cinco e meia está a começar a ficar frio........