Não deixa de ser engraçado ter saido de Amesterdão para ir aterrar em Nova York, território inicialmente colonizado pelos Holandeses em 1625 onde estabeleceram um entreposto e que baptizaram de Nova Amsterdão. Deixei a capital holandesa a correr depois de quase 4 meses de trabalho e de umas últimas 3 semanas de grande stress. Aterro em NY sem perceber muito bem como, ainda meio confuso de tudo o que se passou neste último ano. Fez ontem duas semanas que cá estou e só agora parece que estou realmente a sentir o chão. Como uma nova página num livro, em que se ensaia várias vezes antes de lavrar a primeira palavra...
A viagem desdo o meu Porto foi longa: as cinco horas de diferença horária faziam com que o dia parece longuissimo, com o sol a fugir mais lentamente que o costume. O tarde arrastou-se com uma luz amarela a preencher o avião durante várias horas. Na minha fila de três ia apenas mais um tipo que vinha a ler umas coisas em hebraico. O tipo era mesmo estranho, não por vir a ler as coisas num alfabeto indecifrável mas porque não comia nada do que lhe traziam e ainda por cima quando tirou os sapatos para ficar mais confortável, quase que fez perder a vontade de comer qq coisa que me trouxessem.
Confesso que vinha um pouco assutado com todo o securitarismo que envolve uma vinda aos States. Não sabia se me faltava alguma coisa ou se me iam levantar problemas à chegada. Obter o visto J1 foi um filme com direito a cenas em esquadras, pelo que já estava à espera de tudo. Ou de quase tudo porque a meio da viagem as hospedeiras da Lufthansa distribuiram por todos os passageiros os famosos papelinhos da emigração: os verdes para quem ia de férias, os brancos para quem tinha visto (ou se não era assim era parecido). A mim calhou-me o branco...
Começo a ler, tudo me parece normal... Perguntas do tipo: "Já alguma vez praticou actos de terrorismo?", "Já manipulou explosivos ou armas quimicas ou biológicas?" e coisas do género. Mas houve uma pergunta que me tramou: "Traz consigo produtos alimentares?"... Oh que caraças! E não é que trago... Mas eram apenas dois pacotes de Linguas de Gato, (um pacote tinha o Tobias e outro o Malaquias para quem é fã das Linguas de Gato). Eu sempre que vou para fora gosto de levar alguma coisa portuguesa, muito portuguesa para funcionar como mais uma espécie de cordão umbilicar. Eu sei que é uma mariquice e que sentimentalismos não alimentam a alma, mas pelo menos as Linguas de Gato alimentam o corpo!
Mas e agora? Se digo que sim trago produtos alimentares vou ficar retido à entrada e vou ter de responder a perguntas dos M.I.B. Se digo que não, isto é se mentir, vou ser apanhado, vão-me pedir para abir a mala e vou ser deportado por causa do duo Tobias & Malaquias. O que fazer??? Depois de muito ponderar achei que a verdade é sempre a melhor política (como diria o MacGyver, mas não o Chico Naifas) e decidi por a cruzinha no "Sim: Eu trago produtos alimentares! Por favor PRENDAM-ME!!"
O avião aterrou no JFK por volta das 17h30 locais. Só à saida, a caminho da fila para as "inspecções" é que me apercebi que o avião vinha carregado da pessoas vindas do leste. Aliás, já pude verificar que há imensos cidadãos de leste aqui em NY e só à minha volta no Google há pelo menos 4 russos e 1 sérvio (que por acaso é um curtidola). Tentei chegar rapidamente à fila da emigração. Percebe-se em certas secções do caminho que o tempo deve estar muito quente lá fora, no exterior do JFK.
Havia dois pontos sucessivos de controlo. O primeiro para verificar se se tinha autorização de residência, e o segundo, já depois de recuperar a bagagem para verificar o que trazemos. Depois de 20 minutos à espera, passo o primeiro posto de controlo, sem problema porque tinha o visto em condições. Depois recupero a bagagem e dirijo-me para o segundo. Aqui é que tudo se decidia! Entrego o papel a um polícia na casa dos 30, um jovem tal como eu! :)
Ele olha para mim e pergunta: "Então que é que trazes?", e eu um bocado a medo respondo "Dois pack of cookies?"... E ele olha para mim, sorri e diz "Get out of here!..."
E eu assim fiz....! Um pouco envergonhado pelo ridiculo, mas com a consciência tranquila de ter dito a verdade na terra da liberdade!
À porta do JFK está um calor intenso! Procuro um autocarro para o centro onde o Francisco se encontrará comigo...! Esta noite fico na casa da Crsitina e do Francisco, na Bleeker Street!
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1 comment:
Devias ter dito a verdade
Two bags of Cat Tongues
assim seria interessante ouvir a resposta :)
Um abraço
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