Recordo-me claramente do dia em que cheguei a Amesterdão. Passaram-se três meses e dois dias desde essa altura. Estava eneblado e tinha apenas duas referências: a morada da imobiliária que me alugaria a casa, e a morada da própria casa.
À saída da estação central, salpicada por caras e gentes de todas as cores encontrei a fila de táxis. Meti-me no primeiro, convenientemente escolhido pela destino, arrumei a pesada mala preta e a mochila no carro, prontamente ajudado pelo taxista de meia idade, e indiquei a morada da imobialiária. A caminho era confuso e só me lembro de percorrer algumas avenidas que levaram o taxi até a uma espécie de praça muito cinzenta. Procurava o número 10.
O taxista, ele próprio um pouco perdido, rodou pela primeira vez a praça e não deu com o edificio. Paramos momentaneamente à frente de uma grande esquadra, enquanto ele tentavar orientar-se. O taxista comentou, para complementar as evidências e talvez tentar afastar algum nervosismo da sua desorientação: "Está aqui uma grande esquadra!". Eu colaborei prontamente e disse, em tom de graça "Se tiver de vir aqui é porque a coisa não correu bem!". Rimo-nos breve e cordialmente.
Logo em seguida, como que por efeito deste pacto de circunstância, o número 10 sirgiu mesmo diante dos nossos olhos: edificio da imobiliária ficava mesmo em frente ao ponto onde parámos. O taxista exibia um forte sentimento de satisfação: que tinha finalmente cumprido o seu dever na plenitude. Era nitidamente um homem que não gostava de trapalhadas. O penteado rigoroso confirmava.
Saí, ele ajudou-me com as malas e fiquei à porta do edificio da Alliantie.
O edifício tinha portas rotativas....
Hoje voltei, inesperadamente, a essa estranha praça. Três meses e dois dias depois, chovia torrencialmente em Amsterdão. Procurava desta vez o departamento de Achados e Perdidos. Stephenstraat 18. Entrei na esquadra a pedir informações. Pelo mapa sabia que não estava longe. O agente de serviço indicou-me que o departamento ficava na rua de trás da esquadra. Agradeci e saí.
Lá dei com a porta. Eram 9h02 e o departamento só abria às 9h30. Fiquei abrigado da chuva debaixo de um parapeito. Às 9h30 a porta de correr abre-se magicamente. Entro nesse instante. Os funcionários não esperariam que alguém aparecesse tão imediatamente e fitaram-me. Cumprimento-os e aproximo-me do balcão.
Uma funcionária pergunta-me algo em holandês. Sorrio e peço-lhe se pode repetir em inglês. Explico-lhe para o que venho. Ela consulta o computador e recolhe ao armazem por 30 segundos. Quando volta, pousa em cima do balcão o passaporte que eu tinha perdido na quinta-feira passada.
Sorrio. Ela sorri também. Ela exibia um sentimento de quem tinha realmente cumprido o seu dever na plenitude. E eu mostrava um alívio de quem tinha saido de uma grande trapalhada. É que também eu sou um homem que não gosto de grandes trapalhadas. O meu panteado rigorosamente encharcado confirma-o! Rimo-nos breve e cordialmente. E eu sai com nítida a sensação que devia jogar mais vezes na lotaria....
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